quinta-feira, 7 de agosto de 2014

E esse tal de amor próprio?

Que mulher nunca ouviu de alguma tia, mãe, vó ou amiga: “querida, para um relacionamento dar certo, o homem precisa gostar mais da mulher do que a mulher do homem...”

A quantidade de conceitos destrutivos e machistas concebidos nesse inócuo conselho sempre me incomodou, principalmente pelo fato de eu ter escolhido estar ao lado de alguém que amo de uma maneira tão intensa e profunda que sequer consigo imaginar o que viria a ser um amor maior do que esse.

Parte-se do pressuposto de que mulheres amam mais e, portanto, para equilibrar essa equação é preciso desequilibrar a quantidade de amor distribuída no relacionamento.

Essa mensagem é tão equivocada para as mulheres quanto para os homens. A mensagem que passa à mulher é de que ela nasceu para ser cuidada. Ao homem, desvaloriza a mulher que o “ame mais”, pois esse não é o fluxo correto das coisas.

Existem até grupos de apoio para mulheres que amam demais. Entendo a mensagem e sentido dos grupos, mas discordo da semântica. Mulheres (ou homens!) afundadas em relacionamentos destrutivos, muitas vezes em ciclos de co-dependência não amam. E digo isso por uma simples razão: não se pode dar a alguém o que não temos em primeiro lugar por nós mesmos.

Pessoas que se enquadram no perfil “amo demais, faço todos os sacrifícios, fico sem dormir, dou minha própria comida pelo outro bla bla bla e não recebo nada em troca a não ser desprezo e sofrimento” não amam, elas são viciadas. Sim, viciadas no sofrimento, no sentimento de autocomiseração, em serem vistas como vitimas da vida e da injustiça divina e, principalmente, na justificativa perfeita que essa situação lhes dá para que deixem de trabalhar tooooodooos os outros problemas de sua vida e de sua alma!

Atenção, não estamos aqui culpando a pessoa pelo seu vicio. Assim como qualquer dependência é preciso um esforço hercúleo para se desvincular da situação e vencer o vício. A ideia é apenas esclarecer e diferenciar esses comportamentos de adicto daquilo que é um relacionamento verdadeiramente baseado no amor.

O amor pelo outro passa necessariamente pelo amor próprio. Ele é sereno e sem cobranças. Ele não espera nada em troca. Ele simplesmente existe. Quando você ama de verdade alguém você quer que a pessoa seja feliz e isso pode significar que ela não será feliz ao seu lado, por exemplo.  Mas também não quer dizer que pela felicidade do outro você irá se anular e tornar a sua vida miserável, pois o amor próprio entra para resgatá-la. Você irá auxiliar até onde aquilo não te destrua com a serenidade e confiança de que em primeiro lugar você não pode ajudar ou amar ninguém se não estiver se amando se cuidando. Primeiro temos que colocar a mascara de oxigênio em nós mesmos para então, vivos e respirando, podermos auxiliar os outros. O amor verdadeiro traz paz e não sofrimento! Ainda que aparentemente possa haver uma abnegação física o sentimento relacionado será de paz. Maior exemplo disso são as pessoas que renunciam aos bens materiais ou a uma vida de conforto material para ajudar ao próximo. Ninguém imagina a Madre Tereza cobrando algo em troca de seus leprosos ou rasgando as vestes para dizer que ela havia feito isso isso isso e aquilo e eles nem para retribuírem fazendo aquilo outro.

O amor próprio é algo tão maravilhoso quanto difícil de construir na sociedade atual. Especialmente para mulheres, como demonstra a frase que abre esse post. Nascemos e crescemos em uma sociedade onde somos o tempo inteiro julgadas e culpadas. Pela roupa, pelo corpo, pelas atitudes mais ou menos femininas, pelas escolhas. Uma sociedade onde, como diria Gregorio Duvivier em uma de suas divertidíssimas colunas na Folha, o homem é corno ou filho da puta e a culpa é de qualquer forma da mulher.

Amor próprio hoje em dia é confundido constantemente com egoísmo, mas isso é matéria para outro post...


A reflexão de hoje sobre a frase que abre o post é apenas sugerir que você, homem ou mulher reflita sobre o como tem tratado a si mesmo para então analisar como se tem deixado tratar dentro do relacionamento! 

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