quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Gente que inspira - Carol Fernandes


Todo mundo já ouviu falar de uma história mais ou menos assim: “nossa, sabe fulano? Então, largou tudo e foi para Índia fazer um retiro espiritual de 6 meses” ou “lembra da fulana? Super workaholic? Então, foi demitida, pegou o dinheiro e foi viajar 6 meses. Hoje é outra pessoa!”

Isso sem falar, obviamente em todas as pessoas influenciadas pelo mega blaster sucesso de “Comer, Rezar, Amar”, também inspirado em uma história real dessas.

Minha reação ao ouvir essas histórias era sempre um misto de cara de “aham sei” e pensamento de “riquinho revoltado-metido à hippie-sustentado pelo pai”.

A sensação é de que essas realidades estão completamente distantes das nossas e, como só ouvimos as que deram certo, continuamos no automático, reproduzindo padrões de infelicidade e auto sabotagem altamente perigosos e quem podem ser letais.

Bem, isso até eu mesma em primeiríssima pessoa com esses olhos que a terra há de comer conhecer e acompanhar a história da Carol.

Bom, antes de qualquer coisa é importante entender como nos conhecemos eu e a Carol, pois já foi meio que num quebra pau por telefone. Eu era advogada e ela gerente de trade-marketing em uma multinacional americana. Ela tinha aquele típico perfil de ex-trainee que virou gerente e se achava a ultima bolacha do pacote. Eu, como toda “ex-estagiária com inveja de trainee” odiava esse perfil. Nenhuma das 2 era de muita papa na língua como podem imaginar...

Lembro muito bem o dia em que falei para uma grande amiga e alma bela que havia sido chefe da Carol: “cara essa menina é muito metida! Ela pensa que eu sou quem? Carimbadora dela?” E Morinha olhou para mim e disse: “a Carol é muito lega! Você vai gostar dela! Ela tem essa intensidade que também temos, mas dê uma chance! Você não vai se arrepender”. Bom, se a Mora gostava dela, alguma coisa tinha que ter de bom. Eu ia sim dar uma chance. A oportunidade surgiu de termos que trabalharmos juntas novamente em um contrato importante e foi show! Descobri como ela é divertida, competente, e apesar de parecer marrenta no começo, ela só queria, assim como eu, que o negócio desse certo. Pronto! Viramos amigas e eu passei a admirá-la mais e mais como profissional. Sempre falava dela pelos cantos: “meu, a Carol é foda! Super nova com essa equipe enorme, todo mundo adora ela! Competenterrima...” Como era de se esperar e até um pouco obvio, a Carol foi expatriada! Só confirmava minha tese... e eu continuava me espelhando nela, ainda que ela nem soubesse.

Até que, um dia nos encontramos em Lausanne na Suíça. Eu acabava de ser promovida e estava fazendo um treinamento lá, ou seja, no ápice de minha empolgação de garota de 26 anos super carreirista. Quando encontrei a Carol levei um balde de água fria! Nunca a tinha visto tão desanimada. Com uma cara apática que não combinava com ela, começou a me contar que, tirando as viagens de fim de semana, estar na sede da empresa só a fez ver a politicagem e o vazio daquele mundo corporativo. Nossa conversa foi curta, mas me tocou muito.

De volta ao Brasil, cerca de 6 meses após o nosso encontro, nos encontramos de novo por coincidência do destino uma ao lado da outra no RH. Saímos da salinha dos “RHs” com quem estávamos falando e ela me chama para um café: “cara você pediu demissão?” “sim” “eu também! Vou viajar o mundo por 1 ano!”. Oi?? Como assim? Quando? O que? E a cara do inicio desse texto sumiu completamente abrindo espaço para uma completa admiração e curiosidade.

É isso aí, a Carol, executiva muito da bem sucedida, daquelas que todo mundo paga pau mesmo e que recebeu inúmeras propostas para ficar e outras tantas propostas para ir mas voltar, sonhou e conseguiu a sua liberdade... (com muita programação!)

Nas palavras dela: “quando tudo parecia perfeito e eu teoricamente era uma pessoa ‘bem sucedida’ me dei conta de que algo estava errado. Tinha uma ótima vida financeira e estabilidade, mas trabalhava horas demais e não tinha tempo pra mim. De alguma forma a minha vida não parecia ter um bom balanço e me dei conta de que eu nunca tinha planejado aquilo pra mim.”

Era para ser 1 ano viraram 2, era para ela voltar e ver o que fazer profissionalmente, mas ela conseguiu encaixar as coisas de uma forma que a viagem está rendendo experiências profissionais incríveis e, mais, podendo ajudar outras pessoas com a sua experiência com o bônus de ser “dona de seu próprio nariz”.

Dificuldades existem em qualquer processo de descoberta, de quebra de paradigmas e de enfrentamento, mas segundo ela o momento mais difícil é tomar de fato a decisão. Sair do planejamento sonhador para a ação. “Depois que você toma a decisão tudo flui naturalmente. Quando você decide uma coisa você começa e se envolver muito com ela e com os planos que vão fazê-la acontecer e tudo fica mais gostoso, o medo diminui e a insegurança também. O problema é quando as pessoas ficam na fase do “eu queria fazer isso”. Quando você fica nesse estágio nunca vai fazer as coisas acontecer, ‘queria’ não move ninguém pra frente. A decisão é o momento mais difícil e também o mais crucial”.

Bom, nos reencontramos recentemente após o seu retorno e eu vi na minha frente uma outra mulher! Ainda mais linda (loira!!!) e mais leve...

O maior aprendizado? Com a palavra, a Carol novamente: “Essa foi certamente a experiência mais transformadora que vivi em minha vida. Deixei a bolha na sociedade em que eu vivia para experimentar o mundo de todas as formas diferentes. Deixei de ser influenciada e julgada pelas pessoas que eu conhecia e pela minha cultura para conhecer diferentes formas de pensar e de agir”.

Mas não foi só isso: “A viagem resgatou também meus valores. Tudo foi repriorizado: o meu tempo, o trabalho, o dinheiro, as pequenas coisas da vida. A viagem tem uma incrível capacidade de te mostrar o grande valor nas pequenas coisas da vida, por que ela te oferece tempo para desfrutá-las com prazer, um conceito que as pessoas não entendem mais na vida moderna corrida. Hoje o tempo e o prazer estão em primeiro lugar e o trabalho e o dinheiro devem ser uma consequência disso, não o contrário”.

Sobre o autoconhecimento proporcionado ela nos ensina: “Eu quebrei muitos paradigmas sobre mim mesma, sobre o que eu achava que era capaz, sobre prazeres, sobre sabores, sobre o que eu achava que eu gostava ou não, sobre o meu temperamento e minhas limitações. A experimentação e a mente aberta me ajudaram a quebrar todos esses paradigmas e hoje me conheço muito melhor. Me sinto mais segura do que quero pra mim e pra minha vida, me sinto mais capaz para realizar qualquer coisa que eu queria (seja pessoal ou profissional) e me sinto mais segura. Esse autoconhecimento foi fundamental pra ir atrás de tudo que eu queria de verdade. O maior sabor da vitória é mostrar que somos capaz de qualquer coisa, é só uma questão de vontade e de acreditar em você mesmo. Experimentar essa sensação te enche de coragem e te dá ainda mais energia pra ir atrás de todos os seus sonhos e das suas vontades.”

Não há nada de errado em “não largarmos tudo para rodar o mundo”, mas sim no automatismo à que a normose nos leva, executando ações e levando uma vida que não desejamos sem sequer nos darmos conta daquilo. Aquela história de “quando vi já estava aqui e fui levando” se aplica a tudo: a um namoro que vira casamento simplesmente por “fazer sentido”, a ter filhos por pressão da sociedade só porque “já está na hora”, a escolher uma profissão baseada apenas na segurança e no caminho teoricamente mais fácil, a não viajar a lugares diferentes por medo, a não experimentar caminhos mais tortuosos mas com uma vista incrível de tirar o fôlego. A história da Carol nos inspira não apenas a botar uma mochila nas costas e a rodar o mundo, mas a olhar para a nossa vida e tomar consciência. Temos consciência do que estamos sendo e fazendo ou estamos “levando”?

“Entendi que nossa mente é dominada por paradigmas, temos medo de coisas que nem temos informação, dizemos que não gostamos de coisas que nunca provamos, damos opiniões formadas sobre coisas que nem conhecemos. Aprendi que a experimentação é a melhor forma de quebrar todos esses paradigmas e me abri pra muita coisa e a sensação era de que eu tinha vivido 10 vidas em uma. A viagem também ensinou que nem tudo está no meu controle, me ensinou a ser mais leve e a me estressar menos, me ensinou a aproveitar tudo, mesmo quando não sai perfeito (afinal o imperfeito também pode ser perfeito). Mas eu acho que o maior aprendizado foi a CORAGEM! Ter largado tudo para viver aquele sonho, sentir que foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida e que no final tudo da certo, me deu muita coragem. Me sinto uma mulher maravilha agora, capaz de realizar qualquer coisa. Nunca tive tanta coragem para viver todos os meus sonhos e a vida que eu quero de verdade pra mim. E quando senti isso entendi que apesar da viagem ter acabado a aventura não tinha acabado. A minha vida seria uma eterna aventura dali pra frente, pois era essa excitação que me deixava feliz e servia de combustível para fazer qualquer coisa. ”  

É isso aí Carol! Obrigada por nos inspirar e mostrar que tudo é possível com um bom planejamento e coragem de TOMAR A DECISÃO!




Pra conhecer mais sobre a viagem pelo mundo de 2 anos da Carol acesse http://kikiaroundtheworld.com. Não deixe de conferir também o seu novo projeto, com o intuito de inspirar pessoas a se transformar através de viagens longo prazo. Acesse o http://projetoviravolta.com e INSPIRE-SE!!!






Um comentário: