quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Os números do machismo entre jovens no Brasil


Não poderia deixar de comentar a pesquisa divulgada ontem que aponta os os números do machismo no Brasil

Nada de novo no fato de 96% dos jovens (a pesquisa foi conduzida com jovens de 16 a 24 anos) considerarem vivermos em uma sociedade machista, mas muito surpreendente e um tanto aterrorizante o fato de uma parcela expressiva considerar normais atitudes que só reforçam a misoginia colocando as mulheres em posição de desigualdade com consequências mais ou menos violentas mas igualmente degradantes. 

O levantamento foi feito pelo Instituto Avon e Data Popular com 2.046 jovens de 16 a 24 anos de todas as regiões do país – sendo 1.029 mulheres e 1.017 homens e de certa forma explica algumas das conclusões da famigerada pesquisa do IPEA segundo a qual 26% dos brasileiros acreditam que uma mulher merece ser atacada dependendo das roupas que use. (ok não era 65% como anteriormente se alardeou, mas se você acha 26% ok, volte duas casas no processo evolutivo). 

Sobre o controle que os homens exercem desde cedo nas vidas das mulheres com quem se relacionam temos que 33%, já foram impedidas de usar determinada roupa e 9% já foram obrigadas a fazer sexo quando não estavam com vontade. Além disso 37% tiveram relação sexual sem camisinha por insistência do parceiro. Temos também que 35% das meninas já foram xingadas pelo namorado (talvez por terem "desobedecido" alguma das ordens anteriores).  

Lendo a matéria me pego pensando em como o machismo é sutil e em todas as situações que eu mesma já vi e vivi ouvindo de mulheres orgulhosas e encantadas sobre o ciúme do parceiro (já fui dessas) como se aquilo fosse prova de amor - especialmente na idade das entrevistadas - nas amigas contando que o fulaninho não deixa ela usar saia curta ou decote com aquele olhar de quem está sendo "cuidada" e nas inúmeras amigas e conhecidas que tenho que não só não podem sair sozinhas com as amigas como acham errado que eu "possa". Elas não devem ter achado nada demais o fato de 48% dos meninos entrevistados acharem errado a mulher sair com os amigos, sem a companhia do marido, namorado ou "ficante" e nem o fato de 40% das mulheres relatarem que o parceiro controla o que fazem, onde e com quem estão. 

Ao mesmo tempo não consigo parar de pensar no perigo dessas crenças vendidas a meninas e meninos desde tão cedo. Em como elas estão direta e indiretamente ligadas aos números da violência doméstica contra mulheres e aos altos índices de estupros e abusos dos mais variados contra jovens e adultas conforme demonstram os números mais uma vez (3 em cada 4 jovens já foram agredidas por seus parceiros). 

A maioria esmagadora das meninas (78%) já relata terem sofrido algum tipo de assédio como cantada ofensiva, abordagem violenta na balada e ser beijada à força. Lembrem-se: estamos falando de meninas de 16 a 24 anos, cuja vida sexual e amorosa está apenas no início. Quais seriam os números se fizéssemos a mesma pesquisa com mulheres entre 30 e 50 anos? Não me espantaria que em uma base mais ampla 100% declarassem já ter sido beijadas a força. Talvez para "fugir" desses perigos é que 80% achem que a mulher não deve ficar bêbada (o homem é claro que não só pode como deve!) em festas ou baladas (em casa em sofrimento solitário deve poder, pois com uma vida dessas é o que resta...). 

Confesso que para quem pesquisa e defende quase que diariamente a igualdade e os direitos das mulheres ler que quase metade (42%) delas reprovam uma mulher que fique com muitos homens e que 43% dos garotos categorizam mulheres para namorar ou para ficar deu um nó aqui na garganta.

Considerando que estamos falando de uma geração nova, de novos homens e mulheres que vão criar mais homens e mulheres possivelmente com este mesmo pensamento, não consigo não entristecer e me perguntar então quando é que teremos enfim liberdade para escolher? Quando poderemos andar pelas ruas livres com a roupa que melhor entendermos sem medo de sermos atacadas e, pior, culpadas por isso? Quando o sexo deixará de ser uma prerrogativa masculina, seja limitando as escolhas da mulher quanto à quantidade e qualidade, mas também ao ser considerado um direito do parceiro que deve ser satisfeito ainda que não estejamos com vontade? Até quando as regras da “moral” serão maiores e mais imponentes que as leis e direitos constitucionais que nos protegem?

Mas a pergunta que mais me atormenta é até quando nós mulheres seremos perpetuadoras desses absurdos?

Como me deixa triste ouvir de amigas/conhecidas: “você não cansa desse mimimi feminista??!” ou “afe que preguiça hein”. Nossa isso me dói na alma de um jeito muito profundo!

E você? Já parou para pensar como pode estar contribuindo para o “machismo nosso de cada dia”? 

Nenhum comentário:

Postar um comentário